Lamentações 2:19
O desabafo é algo que encontramos com
frequência nas Sagradas Escrituras. Por meio dele podemos derramar nossa alma
perante o Senhor, extravasando nossas mágoas, ressentimentos, tristezas,
queixumes, inquietações, medo, indignação, ansiedade, revolta e tantos outros
sentimentos que azedam a nossa vida. Ele não é pecado, quando o que nos motiva
é a proximidade de Deus, a intimidade com Ele, a certeza do seu amor,
providência e recursos. Diferentemente, na murmuração não falamos com Deus, mas
contra Ele, enfrentamo-lo com desaforos, colocando-O no banco dos réus.
Na vida, encaramos inúmeros problemas,
que, se não colocados para fora, podem gerar ansiedade e outros distúrbios. As
situações mais graves levam o indivíduo ao álcool, às drogas, e, em muitos
casos, ao suicídio. Podem, ainda, causar doenças emocionais e mentais, bem como
as psicossomáticas. Como bem diz o Psiquiatra Henrique Figueira: “quando
engolimos sapos, chega uma hora em que o organismo não suporta mais a tensão e
estoura através das doenças.”
Assim, o desabafo é algo imprescindível à
saúde emocional, espiritual e física. Carlos Garrido, psicanalista, afirma que
“um dos remédios para prevenir as doenças do coração é o desabafo.” E declara
ainda: “perigoso não é o que se fala, mas sim o que se deixa de falar.” Na sua
compreensão, aquilo que não externamos torna-se um veneno que certamente fluirá
de alguma maneira por meio de distúrbios como diarreia, impotência, e até mesmo
infarto.
O grande impasse é: Com quem devemos
desabafar? Não é gritar para as paredes e quebrar tudo que se ver pela frente,
mas é fundamental que tenhamos ouvidos para nos ouvir. Pode ser com seu cônjuge
ou por pessoas ligadas pelo amor, carne, convivência, que temam ao Senhor. Como
nos orienta o apóstolo Paulo na carta aos Gálatas: “Partilhem as
dificuldades e problemas uns dos outros, obedecendo dessa forma à ordem do
nosso Senhor.” (Gl 6.2) São pessoas com as quais podemos contar as nossas
lutas e inquietações. Porém há situações em que se torna necessário um
conselheiro idôneo capacitado, que pode ser um pastor, psicólogo,
psicoterapeuta ou psiquiatra tementes a Deus. São pessoas preparadas que
poderão, com ferramentas apropriadas, ajudar nas dificuldades.
Quero incentivá-lo ao desabafo
espiritual, que podemos realizar por meio da oração, sem sombra de dúvida, a
forma mais segura de todas. Certamente, você necessitará de que exerça certo
grau de confiança em Deus, depositando nEle toda a sua fé. Como fez Davi,
quando se encontrava na caverna, perseguido por Saul: “Em alta voz clamo ao
Senhor; elevo a minha voz ao Senhor, suplicando misericórdia. Derramo diante
dele o meu lamento; a ele apresento a minha angústia.” (Sl 142:1-2) De
maneira firme e corajosa, você apresenta a Deus seus problemas, sejam quais
forem.
Assim como Davi, tantos outros servos de
Deus se derramaram perante o Senhor, apresentando suas angústias e
necessidades. Podemos lembrar Jeremias, que foi habilidoso na arte do desabafo,
pois constantemente apresentava ao Senhor as suas decepções. Ele nos recomenda:
“Levante-se, grite no meio da noite, quando começam as vigílias noturnas;
derrame o seu coração como água na presença do Senhor. Levante para ele as mãos
em favor da vida de seus filhos, que desmaiam de fome nas esquinas de todas as
ruas.” (Lm 2:19) Sua dor foi tremenda, pois chegou a amaldiçoar o dia do
seu nascimento e pediu a morte, (Jeremias 20:14-18).
Asafe, o levita, autor de doze salmos, teve
uma crise de fé tão séria que seus pés quase resvalaram e por pouco não desviou
os passos dos caminhos do Senhor (Sl 73:2), o que o retirou dessa horrenda e
perigosa crise foi a prática do desabafo. Enquanto abria o coração expondo a
Deus sua indignação e dúvida, no santuário de Deus, pode enxergar coisas que
ainda não tinha visto antes e, assim, recobrou a sua confiança em Deus.
Como não se lembrar de Ló, um homem que
aos olhos de Deus era justo, mas diante das catástrofes, que desabaram na vida,
rasgou a alma perante o Senhor. Semelhante a Jeremias, amaldiçoou o próprio nascimento
(Jó 3:1-26). Ele desejou morrer para deixar de sofrer, por isso fez muitas
perguntas em seu desabafo. Ele conhecia e praticava a arte do desabafo. “Não
reprimirei a boca, falarei na angústia do meu espírito, queixar-me-ei na
amargura da minha alma.” (Jó 7:11) Não tenho dúvida, esse exercício foi o
que ajudou Jó a sobreviver, pois Deus não o deixou sem resposta.
Jesus Cristo, o Verbo encarnado,
derramou a alma no seu desabafo aos três discípulos mais próximos dele (Pedro,
Tiago e João), quando revelou sua dor: “Disse-lhes então: "A minha alma
está profundamente triste, numa tristeza mortal. Fiquem aqui e vigiem
comigo". (Mt 26:38)
Ante desses exemplos, não perca a
oportunidade de retirar os sentimentos ruins do coração por meio do desabafo.
Pode ser que você venha a dizer coisas desconexas e absurdas, mas é melhor
proferi-las do que armazenar e multiplicar absurdos em sua mente. Deus não se
ofende, quando ouve essas coisas, nem pune a quem se apresenta diante dEle para
se derramar, chorar e queixar-se de suas adversidades, para assistir em nossa
fraqueza, dá-nos o Espírito Santo, que, em virtude de não sabermos orar como
convém, “intercede por nós sobremaneira com gemidos inexprimíveis” (Rm
8.26). Nos momentos de dores e angústias, Elias,
Jonas, Jeremias e outros servos desejaram a morte, no entanto Deus tratou a
todos eles com acentuada compreensão. Procurar alguém para ouvi-lo é muito
importante para seu bem-estar emocional, física e espiritual. Ademais, não se
esqueça de que o Senhor estará sempre pronto para escutá-lo (Sl 86.7 e 120.1).
Rev. Liberato Pereira dos Santos
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