Marcos 6:14-29
Vivemos numa cultura
cujo valores são contrários ao do Reino de Deus. A todo instante, somos desafiados
a tomar decisões, e qual deve ser a nossa posição? Em muitas circunstâncias,
somos chamados a nadar contra a maré da opinião pública. Assim como Jesus, no
texto supracitado, Seu precursor não procurou agradar as multidões, pelo
contrário, viveu de maneira radical e contracultural.
Em
seu estilo de vida - Enquanto os líderes religiosos de sua época viviam em
belas casas, o próprio Sumo Sacerdote morava num palácio, João Batista foi ao
deserto para viver uma vida modesta de reclusão e oração. Ele não era
pretensioso, nem se superestimava. Na verdade, muito pelo contrário, não
afirmava ser mais do que era, havia nele humildade. Quando Jesus veio para ser
batizado por ele, sua resposta foi: "Eu preciso ser batizado por ti, e
tu vens a mim?" (Mt 3:14) Também havia simplicidade em seu estilo de
vida. Ele não usava um terno Armani ou jeans de marca, não tinha um relógio Rolex
nem carruagem de luxo e tantas outras armadilhas do mundo consumista. Mateus
registra que ele usava roupas feitas de pele de camelo, um cinto de couro na
cintura, e sua comida era gafanhoto e mel silvestre. (Mt 3:4) Os cristãos de
hoje deveriam praticar um estilo de vida simples e não cair nas garras do
consumismo.
Em
seu ensino – Sua mensagem era clara e atraía as pessoas, não apenas porque
batia pesado na hierarquia de sua época, mas pelo fato de as pessoas reconhecerem
que sua pregação vinha da parte de Deus. Houve um impacto mesmo nos párias da
sociedade, Lucas registra que alguns cobradores de impostos e soldados romanos aceitaram
a sua mensagem (Lc 3). No entanto sua pregação não era populista, de fato parecia
ter sido extremamente impopular, pois era condenatória.
Os evangelistas
registram que ele pregou um Evangelho de arrependimento. Era um pregador muito rigoroso
que denunciava o pecado sem florear, quando muitos dos fariseus e saduceus
vieram para ser batizados por ele, suas palavras foram: "Raça de
víboras! Quem lhes deu a ideia de fugir da ira que se aproxima? Deem fruto que
mostre o arrependimento! Não pensem que vocês podem dizer a si mesmos: ‘Abraão
é nosso pai’. Pois eu lhes digo que destas pedras Deus pode fazer surgir filhos
a Abraão.” (Mt 3:7:9). Sua mensagem foi dura, não media as palavras, isso
inevitavelmente o colocou em conflito com as autoridades, que na época era o
rei Herodes Antipas. Para o rei, João ultrapassou todos os limites ao
condená-lo por se casar com a esposa de seu irmão Felipe, por isso, mandou-o
para a prisão, e finalmente o decapitou, a pedido da princesa Salomé. Os
cristãos de hoje deveriam resgatar a mensagem do Evangelho de arrependimento,
pregando a verdade com autoridade.
Em
sua coragem – Ele não se acovardou quando as coisas ficaram difíceis. Creio
que João poderia ter procurado sair da prisão, encontrando uma maneira que
permitisse que Herodes se casasse com Herodias, mas não o fez. Quantos homens
de Deus se curvaram a tal pressão temporal!
Uma das manchas na
carreira do grande reformador alemão, Matinho Lutero, foi sua aquiescência ao
casamento bígamo de Filipe de Hess. Em 1530, no auge da Reforma na Alemanha,
onde a causa protestante estava mais vulnerável, Filipe de Hess organizou as
forças protestantes seculares da Reforma, no que foi conhecido como Liga
Shmalkaldic. Essa aliança foi estabelecida para proteger seus interesses
religiosos e seculares contra a interferência do Sacro Imperador Romano
Católico. Em 11 de dezembro de 1523, Felipe casou-se com Christine da Saxônia,
filha de um importante aliado, Jorge, o duque da Saxônia. No entanto Christine
foi descrita por fontes contemporâneas como debilitada de saúde, pouco atraente
e com problemas com a bebida. Logo após o casamento, Felipe cometeu adultério
com a filha de uma das damas de companhia de sua irmã, Margarethe Von der
Saale, e queria se casar com ela. O assunto foi discutido com os grandes
reformadores alemães: Lutero, Melanchthon e Bucer. Para alcançar seu intento,
Filipe ameaçou ficar do lado do Sacro Imperador Romano contra a Liga
Protestante Shmalkaldic. Os reformadores cederam à chantagem e concordaram,
sancionando um casamento bígamo, ocorrido em 4 de dezembro de 1540.
Se tivessem ouvido a
opinião de João Batista, não tenho dúvida de que ele condenaria a união, tal
era a coragem e integridade do profeta. Sua firmeza de espírito custou-lhe a
cabeça. Quantos cristãos que por tão pouco negam a Cristo e fazem negociatas
com causas ilícitas, para não sofrerem retaliação ou rejeição!
Assim, a história de
João Batista nos lembra que ser cristão verdadeiro nem sempre será fácil.
Haverá decisões difíceis a serem tomadas, as quais nos podem levar à
impopularidade. Ela nos revela que necessitamos viver de maneira simples, não
deixando que as atrações deste mundo consumista nos leve a apreciar a
ostentação, soberba e vaidade, caminhos opostos ao de Cristo. Necessitamos ter
a coragem e ousadia para pregar o legítimo evangelho, denunciando o pecado onde
ele estiver, no palácio ou na favela, convocando as pessoas ao arrependimento e
apontando para a cruz de Cristo. Devemos ser fiéis ao chamado de Deus para
nossas vidas, mesmo que isso nos custe um preço elevado. Um grande desafio! Que
o Senhor nos ajude.
Rev. Liberato Pereira
dos Santos
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