Jeremias 8:18-9:1
Empatia é a aptidão
psicológica de se identificar com a situação vivenciada pelo outro. Algo que
podemos notar claramente na vida do profeta Jeremias, no texto citado. Ele estava
chorando inconsolavelmente, não por seus próprios problemas, mas pelos de seu
povo. Observe suas palavras: “Estou arrasado com a devastação sofrida pelo
meu povo. Choro muito, e o pavor se apodera de mim… Eu choraria noite e dia
pelos mortos do meu povo.” Deus lhe
deu um grande senso de empatia por seu povo. Enquanto proferia uma notícia de
julgamento à nação de Judá, o seu coração estava dilacerado pelo sofrimento e
dor que o povo iria passar.
O profeta viveu numa
época de grande crise política e econômica. Judá estava passando por um período
de declínio político social. Os líderes eram fracos e ineficazes, e, ao seu
redor, ele estava cercado de pessoas que não estavam vivendo de acordo com a vontade
de Deus, quebrando a aliança. O Senhor o convocou para pregar o arrependimento
a essas pessoas pecadoras, mas elas resistiram e sofreram as consequências. Um
fato surpreendente, o Profeta não tripudia por estar do lado certo nem fica
contente com a condenação do povo, mas o adverte várias vezes sobre a
necessidade de se arrepender para evitar a punição.
Muitas vezes, a
natureza humana alienada de Deus nos leva a se deleitar na condenação dos
ímpios. Gostamos de ver o bandido ser destruído pelo mocinho, como nos filmes.
Mas Jeremias, não. Pelo fato de ele estar do lado certo, não fica desejando a
condenação daqueles que estão no erro, nem mesmo aponta o dedo dizendo: “Olha,
se você tivesse me ouvido não estaria nessa confusão.” No final do capítulo
oito, encontramo-lo chorando inconsolavelmente pelo quebrantamento do seu povo.
Ele é um homem que sofre por aqueles que morreram nas guerras, por aqueles que
estão vivos e imploram que sejam resgatados pelo próprio Deus a quem deram as
costas. O pranto de Jeremias é semelhante ao choro de Jesus por Jerusalém.
Ao meditar nos lamentos
de Jeremias, nesta passagem das Sagradas Escrituras, não posso deixar de me
maravilhar com o poder da verdadeira empatia. É seu verdadeiro amor e
preocupação pelo povo de Judá que lhe permite antecipar-se ao sofrimento de sua
nação, identificar-se com ele e experimentá-lo.
Isso nos leva a pensar qual
é o lugar da verdadeira empatia na igreja, hoje? Quantas vezes nos encontramos
lamentando pela pecaminosidade ou pelo quebrantamento de nosso mundo? Todos os
dias ouvimos relatos de crianças vítimas de abuso, esposas espancadas e até
mortas pelos esposos, filhos assassinando pais, violência, vícios, perversões
sexuais, corrupção em nossos governos e nas igrejas, ataques terroristas em
todo mundo. Todos esses fatos são o suficiente para deixar o coração de um
verdadeiro cristão triste profundamente. Não tenho dúvida de que o coração de
Deus se entristece ainda mais com tudo isso. A perda de vidas, da moral, da
esperança, da plenitude existencial, da qual estamos cercados hoje, é motivo
pelo qual somos chamados para a empatia, não apenas um simples sentimento de
pena das pessoas. Ela nos conduz a atos de misericórdia e justiça, ou seja, à ação.
A
verdadeira empatia é vital ao nosso chamado para o ministério no Reino de Deus.
Somos movidos para a nossa missão, quando permitimos que nossos corações se quebrantem
com as coisas que sensibilizam o coração de Deus. Somente quando nos permitimos
entender verdadeiramente as necessidades do mundo em nossa volta e sentir a dor
de sua perda, podemos ser movidos por Deus para a diligência. Como Jeremias,
somos chamados a ser “profetas chorões” à medida que desenvolvemos um senso de
verdadeira empatia pelo quebrantamento do mundo ao nosso redor. Às vezes, é
tentador, quando vemos a dor, sofrimento, perdas e consequências do pecado ao
nosso redor, nos alegrarmos e acharmos bom. Talvez porque não queremos ser incomodados
ou envolvidos, pensando que o sofrimento ou extermínio dos pecadores seja o
melhor. Mas, para que o verdadeiro ministério da igreja ocorra, temos que nos envolver
e chorar pela conversão dos pecadores, seja ele quem for ou qual pecado tenha
praticado. Temos que arriscar, cuidar, investir, ficar realmente entristecidos
pela violência e o ódio em nosso mundo até ao ponto de agir.
Um
verdadeiro discípulo é aquele, cujo coração está quebrantado por causa das
coisas que entristece o coração de Deus. O amor de Deus é um bálsamo curador e,
como seguidores de Cristo, nossa tarefa é mostrar às pessoas a verdade de que
todos podemos encontrar cura, plenitude, renovação, perdão e força nEle, que as
espera de braços estendidos. Que nós, como Jeremias, tenhamos nossos corações inflamados
com as coisas que tocam o coração de Deus. Então nossas vidas conduzirão as
pessoas a Cristo, o bálsamo de Gileade que cura e restaura o ferido. Há
oportunidades para fazer a diferença, um ato de cada vez, em todos os lugares e
a todas as pessoas.
Como
igreja do Senhor, não podemos deixar que a cultura da violência e
insensibilidade domine nossos corações, porém devemos anunciar a mensagem do
evangelho de Cristo, que é o poder de Deus para transformar o mais vil pecador.
Assim como Jeremias, mesmo que as pessoas rejeitem, continuemos chorando e
desejando o seu arrependimento. Isso é empatia, fruto do verdadeiro amor, que
aprendemos com o nosso Deus: “Mas Deus demonstra seu amor por nós: Cristo
morreu em nosso favor quando ainda éramos pecadores.” (Rm 5:8)
Rev.
Liberato Pereira dos Santos
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