Desde o começo, a missão de Cristo
incorporou a noção de ser universal, transcender limites geográficos, culturais
e sociais. O evangelho cristão, que se destina a todas as pessoas em todos os
lugares, é, assim, não apenas uma fé, mas um mandamento autêntico de Deus, que
impulsionou os cristãos primitivos a disseminarem a mensagem de Cristo até as
regiões mais remotas daquele mundo. Eles estavam certos de que a própria
essência de Deus demandava uma missão global.
A convicção de que existe um único Deus,
que deseja ver todos salvos, estabelecia como imperativo que a pregação
alcançasse o mundo inteiro. Esta compreensão teológica fundamental moldou toda
a estratégia missionária subsequente.
A revelação única de Deus em Jesus
de Nazaré, e sua ação decisiva através dele para salvar a humanidade, criou uma
urgência missionária sem precedentes. A magnitude deste acontecimento –
considerado pelos cristãos como o maior de todos os eventos da história –
demandava que a notícia fosse espalhada pelos quatro cantos do mundo. Assim,
tanto o caráter do evangelho quanto a própria essência divina envolveram a
igreja nascente em uma tarefa para toda a humanidade. Apesar do fato de que os
apóstolos não criaram um plano missionário formal e bem sistematizado, vários
fatores determinariam a direção do evangelho cristão. O cristianismo se
espalhou em grande medida por meio de missionários informais, de forma muito
frequentemente espontânea, em situações casuais. No entanto, elementos
estratégicos claros influenciaram pelo menos alguns dos primeiros evangelistas.
A pergunta fundamental que se
colocava era: por onde começar? Diante da enormidade da tarefa, que estratégia
de avanço deveria ser adotada? A resposta veio naturalmente através de fatores
geográficos e sociais que facilitaram a disseminação da nova fé.
O século primeiro providenciou condições
excepcionais para a expansão cristã. Todo o mundo civilizado ao redor da bacia
do Mediterrâneo estava sob controle romano, uma administração eficiente que
unificou territórios vastos. Roma adotara o grego como língua franca do
império, facilitando a comunicação intercultural. Mesmo em contextos
considerados bárbaros, como Listra, aproximadamente metade das inscrições
descobertas pelos arqueólogos estão em grego.
Os sistemas de comunicação, tanto
terrestres quanto marítimos, eram excelentes. A famosa rede de estradas romanas
e as rotas marítimas bem estabelecidas criaram uma infraestrutura ideal para a
disseminação rápida de ideias. Ademais, a atitude romana de tolerância
religiosa, desde que os credos não perturbassem a ordem pública, abriu caminho
para movimentos suficientemente corajosos, persistentes e dispostos ao
sacrifício.
Antes das viagens missionárias de Paulo,
já existiam comunidades cristãs na Palestina, na faixa costeira da Síria, em
Tarso e em Roma. Vinte anos depois, essas cabeças de ponte foram exploradas
sistematicamente, levando o evangelho aos territórios circundantes. Na Itália,
cristãos podiam ser encontrados em Três Tabernas, Praça de Ápio, Herculano,
Pompéia e Poteóli, além da capital.
As rotas marítimas e terrestres do
Império Romano desempenharam papel significativo na direção do avanço da nova
fé. Um século mais tarde, o cenário tornou-se ainda mais impressionante. A
parte ocidental do império, da qual não havia informações sobre presença cristã
no primeiro século, contava agora com igrejas florescentes na Espanha, França e
Alemanha.
A evangelização seguiu
consistentemente as principais vias de comunicação. Na Alemanha, avançou pelo
curso do rio Reno até Colônia e pelo rio Mosela até Augusta dos Tréveros. Na
Gália, subiu pelo grande rio Arar, a oeste de Marselha, até Viena e Lugduno. No
Egito, expandiu-se a partir de Alexandria seguindo o Nilo, o grande meio de
comunicação daquele país.
Os cristãos não foram pioneiros em
usar as estradas e rotas comerciais como vias de expansão. Os judeus já haviam
trilhado esses caminhos antes deles. É significativo que em cada área principal
penetrada pelos cristãos nos dois primeiros séculos, os judeus já haviam
estabelecido presença anterior. Esta realidade ilustra as palavras de Jesus:
"Um é o semeador, e outro é o ceifeiro. Eu vos enviei para ceifar o que
não semeastes; outros trabalharam, e vós entrastes no seu trabalho."
Diante do exposto, o cumprimento da
missão cristã nos primeiros séculos demonstra como fatores teológicos,
geográficos e estratégicos convergiram para facilitar uma expansão sem
precedentes. A convicção sobre a universalidade da mensagem, combinada com condições
históricas favoráveis e uma abordagem pragmática que utilizou as
infraestruturas existentes, resultou na transformação do mundo mediterrâneo.
Esta experiência histórica continua oferecendo princípios valiosos para o
cumprimento da missão cristã em nossos dias.
Rev. Liberato Pereira dos Santos
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