1 Coríntios 15:51-58
A igreja de Corinto enfrentava sérios
problemas. A unidade da comunidade criada pelo apóstolo Paulo estava sob risco
em virtude de divisões internas, imoralidade, disputas judiciais entre irmãos e
até mesmo a dúvida sobre a ressurreição do Senhor. Nesse contexto, Paulo redige
uma das passagens mais reconfortantes e teologicamente significativas das
Escrituras: I Coríntios 15:51-58.
O apóstolo declara de forma enfática que
a ressurreição de Jesus Cristo é a base da fé cristã. Sem ela, Paulo declara
que não haveria possibilidade de perdão dos pecados, nem a esperança na vida
eterna. A fé cristã seria totalmente nula e infrutífera. Esta não é uma
doutrina periférica ou opcional – é o coração pulsante do evangelho. O Rev.
Hernandes Dias Lopes expressa com clareza a centralidade desta verdade: "A
cruz sem a ressurreição é símbolo de fracasso e não de vitória. Se Cristo não
tivesse ressuscitado, Ele não poderia ser Salvador. Se Cristo não tivesse
ressuscitado, Ele seria o maior embusteiro da História. Se Cristo não
ressuscitou, um engano salvou o mundo" (LOPES, Hernandes Dias. I
Coríntios: como resolver conflitos na igreja. São Paulo: Hagnos, 2008, p. 449).
Em seu argumento, Paulo apresenta provas
substanciais de testemunhas oculares. Jesus aparecerá fisicamente a
várias pessoas e grupos depois da sua morte: a Pedro, aos doze apóstolos, a
mais de quinhentos irmãos de uma só vez, a Tiago e finalmente ao mesmo
Paulo. O apóstolo observa que essas aparições não foram visões
espirituais ou aparições fantasmagóricas, mas sim Jesus os manifestando em
corpo ressurreto e glorificado. Como bem observou João Calvino: "A
ressurreição de Cristo é o fundamento sobre o qual repousa nossa fé. Se ele for
removido, toda a estrutura desmorona" (CALVINO, João. Comentário à 1
Coríntios. São Paulo: Edições Paracletos, 1996, p. 468).
É neste cenário que Paulo menciona um
"mistério", ou seja, uma verdade até então oculta, mas agora
revelada. Nem todos os crentes morrerão antes da parousia de Cristo, mas todos
serão transformados. Essa transformação ocorrerá num "momento, num abrir e
fechar de olhos, na última trombeta". Os corpos mortais ou corruptíveis
estarão revestidos de imortalidade e incorruptibilidade, assim como a própria
ressurreição de Jesus.
Esta promessa não é mera especulação
teológica – ela tem implicações profundas e práticas. A ressurreição remove o
aguilhão da morte. O que antes era o inimigo final e inevitável da humanidade
agora se torna apenas uma passagem para a presença do Senhor. A morte perdeu
seu poder de aterrorizar os que estão em Cristo. Por isso Paulo pode proclamar
triunfantemente: "Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o
teu aguilhão?"
A transformação que a ressurreição de
Cristo operou nos primeiros discípulos é notável. Homens que fugiram
covardemente na noite da prisão de Jesus tornaram-se pregadores destemidos,
dispostos a enfrentar perseguição e martírio. O que explica essa mudança
radical? A certeza da ressurreição. Eles não apenas acreditavam em uma doutrina
– eles haviam encontrado o Cristo vivo.
Esta mesma certeza deve moldar a vida
cristã hoje. Paulo conclui sua argumentação com uma exortação prática:
"Portanto, meus amados irmãos, sede firmes, inabaláveis e sempre
abundantes na obra do Senhor, sabendo que, no Senhor, o vosso trabalho não é
vão". A esperança da ressurreição não nos torna passivos ou alienados das
realidades presentes. Em vez disso, ela nos capacita a perseverar diante dos
obstáculos, conscientes de que nosso futuro glorioso está garantido. Herman
Bavinck, um teólogo reformado, articula essa verdade de maneira eloquente:
"A ressurreição não é apenas a restauração da vida, mas a elevação da vida
a um nível superior de glória e perfeição" (BAVINCK, Herman. Dogmática
Reformada: Escatologia. Vol. 4. São Paulo: Cultura Cristã, 2012, p. 687).
Não é por acaso que este texto tem sido
proferido em diversos funerais ao longo dos séculos, proporcionando consolo aos
enlutados. Sua mensagem transcende limites temporais e culturais, inspirando
até mesmo criações artísticas como "Um Réquiem Alemão" de Johannes
Brahms. A promessa da ressurreição oferece esperança genuína diante da
mortalidade humana.
Vivemos em um mundo marcado por
sofrimento, injustiça e morte. Mas a ressurreição de Cristo nos assegura que
esta não é a palavra final. Um dia, em um instante, seremos transformados. Até
lá, permanecemos firmes, trabalhando diligentemente no serviço do Senhor,
certos de que nossa esperança não é vã e nossa vitória já está garantida em
Cristo.
Rev. Liberato Pereira dos Santos
Disponibilizamos o boletim informativo da IPBN, a fim de que você fique por dentro daquilo que Deus está fazendo em/através da nossa comunidade. Boa leitura. Click no link abaixo e faça o download:https://mega.nz/file/YEghRAyC#e0P2aoLWMuMe5INgfcxUQwSNVl6tke0d0vGuesRyadY

Postar um comentário