sexta-feira, 18 de abril de 2025

A RESSUREIÇÃO DE JESUS CRISTO NUMA PERSPECTIVA REFORMADA 20.04.2025

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Romanos 6:9

A ressurreição de Jesus Cristo se revela como o evento mais impactante e transformador do curso da história. Como Paulo declarou em sua Epístola aos Romanos, 6:9: "Sabemos que Cristo, ressuscitado dentre os mortos, não morre mais, a morte não tem mais domínio sobre Ele." Esse evento único se constituiria em fundamento da fé cristã, especialmente na tradição reformada.

A ressurreição não é uma figura de linguagem ou uma construção mítica, mas antes um fato histórico passível de comprovação. O relato bíblico oferece-nos razão suficientemente consistente da sua veracidade: o sepulcro vazio – tanto os amigos de Jesus quanto os seus inimigos concordaram que o seu cadáver não estava mais no sepulcro funerário. Os adversários, não podendo apresentar o cadáver, propuseram uma teoria de que os discípulos o haviam subtraído (Mt 28.13). Todavia, esta versão se demonstra pouco plausível, haja vista para quem não está disposto a arriscar a própria vida por conta de uma fábula propositalmente inventada! As aparições após a ressurreição foram de duração de quarenta dias, isto é, durante o tempo no qual Cristo se revelou a diversas pessoas e diferentes grupos, incluindo uma ocasião em que foi visto por mais de quinhentas testemunhas de uma só vez (At 1.3; 1 Co 15.6). Essas testemunhas não eram crédulas ou facilmente convencíveis; pelo contrário, elas apresentam frequentemente um ceticismo inicial (Lc 24.11, 38; Jo 20.25, 27). A transformação dos discípulos é uma diferença significativa em seu comportamento, que não pode ser explicada sem a realidade da ressurreição. Homens que antes estavam apavorados tornaram-se pregadores com coragem abundante, prontos para perseguir e para um martírio, tal como com Estêvão e Tiago (At 7.60; 12.2). 

João Calvino, o grande reformador de Genebra, esclarece a centralidade da ressurreição, dizendo: "Se a ressurreição não é aceita, todo o evangelho permanece sem fundamentos ... porque a certeza encontra-se neste tripé: a morte de Cristo, pela qual nos libertou da culpa; sua ressurreição, pela qual nos foi assegurada a vida e a segurança da nossa própria ressurreição; e sua ascensão aos céus, através da qual entrou no celestial, intercede por nós e nos dá o acesso às graças de Deus." Para ele, portanto, sem a ressurreição, a morte de Cristo seria apenas um martírio heroico, e não um sacrifício resultante para a redenção.

 Dentro do contexto do pensamento reformado, que reforça a soberania de Deus e a autoridade das Escrituras, a ressurreição é um solo fértil para compreensões fundamentais. Ela confirma que o Pai aceitou o sacrifício de Jesus como indenização adequada pelos pecados do mundo. A justificação do pecador está intimamente ligada à morte e à ressurreição de Cristo: "foi entregue por nossas transgressões e ressuscitado para a nossa justificação" (Rm 4.25). Essa ação demonstra o domínio absoluto de Deus sobre todo o poder, incluindo a morte. Segundo 1 Pedro 1.21, Deus "o ressuscitou dentre os mortos e O glorificou", assim estabelecendo seu domínio sobre toda a criação.

Séculos antes de Calvino, Agostinho de Hipona tinha pensado na ressurreição e afirmou explicitamente: "A morte de Cristo nos ensina, com relação ao pecado, quão gravíssimo ele é, e a ressurreição nos revela quão grande é a justificação. Pela sua morte, aprendemos como devemos temer; e com sua ressurreição, em que absolutamente devemos esperar. Se Cristo não ressuscitou, utilizando as palavras de Paulo, é inútil nossa fé, pois ainda estaríamos em nossos pecados. Mas quando ressuscitou, aqueles que creem têm o perdão de seus pecados e a oportunidade de integrar uma nova vida que Ele venceu." A reflexão de Agostinho, que também é importante para a teologia reformada, introduz a afirmação da ressurreição como fundamento da esperança cristã e garantia eficaz da obra redentora de Cristo.

Dentro da teologia reformada, a ressurreição de Cristo é designada o "primogênito dentre os mortos" (Cl 1:18), confirmando assim a futura ressurreição dos crentes. Este aspecto é fundamental para a doutrina reformada da perseverança dos santos e da glorificação final dos eleitos. A ressurreição não apenas reestabelece, mas também introduz uma nova ordem da criação. O ressuscitado é o "último Adão" (1 Co 15:45), dando início a uma nova criação, reconectada a Deus.

A ressurreição é, pois, mais do que um dogma a ser aceito, é um poder a ser vivenciado na vida do crente. A mesma força que ressuscitou a Jesus, ressuscitará também o cristão no último dia (Ef 1.19-20). A teologia reformada estabelece que esta regeneração é unicamente devida à graça soberana de Deus. Como nos ensina Romanos 6, a união do crente com Cristo na sua morte e na sua ressurreição dá ao fiel poder para viver e andar numa nova vida, rompendo com as correntes do pecado. Assim como os primeiros discípulos, cristãos de nossos dias são convocados a testemunhar com coragem a respeito da ressurreição de Cristo, numa cultura hostil. A ressurreição é uma garantia de que, diante das separações momentâneas de derrotas, o reino de Deus será por fim estabelecido em conformidade triunfante. Essa é a esperança pela qual a igreja reformada suportou os séculos de perseguição e sofrimento.

Portanto, a ressurreição não é apenas um mero apêndice da fé cristã, mas o seu cerne pulsante. Este fato histórico e sobrenatural é o fundamento da nossa compreensão em relação à justificação, santificação e glorificação. Ao olharmos para o túmulo vazio e para o Cristo ressurreto, somos confrontados com a realidade de um Deus soberano que proclamou a morte e constituiu uma "vida invencível" para todos os que creem nEle. Conforme expresso no Catecismo de Heidelberg: "Por meio de sua ressurreição, Ele derrotou a morte para que pudéssemos compartilhar a justiça que Ele nos deu pela sua morte." Essa é a certeza evangelizadora que sustenta a igreja reformada até o fim dos tempos.

Rev. Liberato Pereira dos Santos


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