Romanos 6:9
A ressurreição de Jesus Cristo se revela
como o evento mais impactante e transformador do curso da história. Como Paulo
declarou em sua Epístola aos Romanos, 6:9: "Sabemos que Cristo,
ressuscitado dentre os mortos, não morre mais, a morte não tem mais domínio
sobre Ele." Esse evento único se constituiria em fundamento da fé
cristã, especialmente na tradição reformada.
A ressurreição não é uma figura de
linguagem ou uma construção mítica, mas antes um fato histórico passível de
comprovação. O relato bíblico oferece-nos razão suficientemente consistente da
sua veracidade: o sepulcro vazio – tanto os amigos de Jesus quanto os seus
inimigos concordaram que o seu cadáver não estava mais no sepulcro funerário.
Os adversários, não podendo apresentar o cadáver, propuseram uma teoria de que
os discípulos o haviam subtraído (Mt 28.13). Todavia, esta versão se demonstra
pouco plausível, haja vista para quem não está disposto a arriscar a própria
vida por conta de uma fábula propositalmente inventada! As aparições após a
ressurreição foram de duração de quarenta dias, isto é, durante o tempo no qual
Cristo se revelou a diversas pessoas e diferentes grupos, incluindo uma ocasião
em que foi visto por mais de quinhentas testemunhas de uma só vez (At 1.3; 1 Co
15.6). Essas testemunhas não eram crédulas ou facilmente convencíveis; pelo
contrário, elas apresentam frequentemente um ceticismo inicial (Lc 24.11, 38;
Jo 20.25, 27). A transformação dos discípulos é uma diferença significativa em
seu comportamento, que não pode ser explicada sem a realidade da ressurreição.
Homens que antes estavam apavorados tornaram-se pregadores com coragem abundante,
prontos para perseguir e para um martírio, tal como com Estêvão e Tiago (At
7.60; 12.2).
João Calvino, o grande reformador de
Genebra, esclarece a centralidade da ressurreição, dizendo: "Se a
ressurreição não é aceita, todo o evangelho permanece sem fundamentos ...
porque a certeza encontra-se neste tripé: a morte de Cristo, pela qual nos
libertou da culpa; sua ressurreição, pela qual nos foi assegurada a vida e a
segurança da nossa própria ressurreição; e sua ascensão aos céus, através da
qual entrou no celestial, intercede por nós e nos dá o acesso às graças de
Deus." Para ele, portanto, sem a ressurreição, a morte de Cristo seria
apenas um martírio heroico, e não um sacrifício resultante para a redenção.
Dentro do contexto do pensamento
reformado, que reforça a soberania de Deus e a autoridade das Escrituras, a
ressurreição é um solo fértil para compreensões fundamentais. Ela confirma que
o Pai aceitou o sacrifício de Jesus como indenização adequada pelos pecados do
mundo. A justificação do pecador está intimamente ligada à morte e à
ressurreição de Cristo: "foi entregue por nossas transgressões e
ressuscitado para a nossa justificação" (Rm 4.25). Essa ação demonstra
o domínio absoluto de Deus sobre todo o poder, incluindo a morte. Segundo 1
Pedro 1.21, Deus "o ressuscitou dentre os mortos e O glorificou", assim
estabelecendo seu domínio sobre toda a criação.
Séculos antes de Calvino, Agostinho de
Hipona tinha pensado na ressurreição e afirmou explicitamente: "A morte de
Cristo nos ensina, com relação ao pecado, quão gravíssimo ele é, e a
ressurreição nos revela quão grande é a justificação. Pela sua morte,
aprendemos como devemos temer; e com sua ressurreição, em que absolutamente
devemos esperar. Se Cristo não ressuscitou, utilizando as palavras de Paulo, é
inútil nossa fé, pois ainda estaríamos em nossos pecados. Mas quando
ressuscitou, aqueles que creem têm o perdão de seus pecados e a oportunidade de
integrar uma nova vida que Ele venceu." A reflexão de Agostinho, que
também é importante para a teologia reformada, introduz a afirmação da
ressurreição como fundamento da esperança cristã e garantia eficaz da obra
redentora de Cristo.
Dentro da teologia reformada, a
ressurreição de Cristo é designada o "primogênito dentre os
mortos" (Cl 1:18), confirmando assim a futura ressurreição dos
crentes. Este aspecto é fundamental para a doutrina reformada da perseverança
dos santos e da glorificação final dos eleitos. A ressurreição não apenas
reestabelece, mas também introduz uma nova ordem da criação. O ressuscitado é o
"último Adão" (1 Co 15:45), dando início a uma nova criação,
reconectada a Deus.
A ressurreição é, pois, mais do que um
dogma a ser aceito, é um poder a ser vivenciado na vida do crente. A mesma
força que ressuscitou a Jesus, ressuscitará também o cristão no último dia (Ef
1.19-20). A teologia reformada estabelece que esta regeneração é unicamente
devida à graça soberana de Deus. Como nos ensina Romanos 6, a união do crente
com Cristo na sua morte e na sua ressurreição dá ao fiel poder para viver e
andar numa nova vida, rompendo com as correntes do pecado. Assim como os
primeiros discípulos, cristãos de nossos dias são convocados a testemunhar com
coragem a respeito da ressurreição de Cristo, numa cultura hostil. A
ressurreição é uma garantia de que, diante das separações momentâneas de
derrotas, o reino de Deus será por fim estabelecido em conformidade triunfante.
Essa é a esperança pela qual a igreja reformada suportou os séculos de
perseguição e sofrimento.
Portanto, a ressurreição não é apenas um
mero apêndice da fé cristã, mas o seu cerne pulsante. Este fato histórico e
sobrenatural é o fundamento da nossa compreensão em relação à justificação,
santificação e glorificação. Ao olharmos para o túmulo vazio e para o Cristo
ressurreto, somos confrontados com a realidade de um Deus soberano que
proclamou a morte e constituiu uma "vida invencível" para todos os
que creem nEle. Conforme expresso no Catecismo de Heidelberg: "Por meio de
sua ressurreição, Ele derrotou a morte para que pudéssemos compartilhar a
justiça que Ele nos deu pela sua morte." Essa é a certeza evangelizadora
que sustenta a igreja reformada até o fim dos tempos.
Rev. Liberato Pereira dos Santos
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