Mateus 5:10-11
Na cultura
contemporânea, onde a busca pelo conforto e aceitação predomina, Cristo
apresenta um paradoxo intrigante: aqueles que O seguem genuinamente. Não
apenas enfrentarão lutas e oposição, mas são chamados a se alegrarem nelas.
Esta perspectiva radicalmente diferente sobre adversidade revela aspectos
fundamentais da identidade cristã autêntica.
Em
seu livro Sermão do Monte, Dr. Martin Lloyd Jones estabelece claramente que o
verdadeiro seguidor de Cristo é "fundamentalmente diferente" daqueles
que não creem. Esta diferença não é simplesmente questão de comportamentos
externos ou práticas religiosas, mas uma transformação essencial de natureza.
Como ele destaca, o crente "não é alguém parecido com todo mundo, apenas
com leves modificações", mas sim "alguém essencialmente diferente;
possui uma natureza diferente, e é uma pessoa diferente." Esta distinção
não é apenas teórica—manifesta-se nas interações cotidianas. O antagonismo que
o mundo frequentemente demonstra em relação aos cristãos autênticos não é
acidental, mas consequência inevitável desta diferença fundamental. Jesus mesmo
alertou que não veio trazer paz, mas "espada" (Mateus 10:34),
indicando a divisão que naturalmente ocorre quando valores do Reino de Deus
confrontam os valores mundanos. Como João Calvino sabiamente observou:
"Uma parte essencial da nossa conformidade com Cristo consiste em carregar
a cruz. Assim como Ele foi provado por aflições durante toda a sua vida, nós
também não devemos esperar atravessar a nossa vida sem tribulações. A
semelhança divina nos torna necessariamente alvos do mesmo ódio que foi
direcionado ao Filho."
Lloyd-Jones
ainda afirma que a vida do crente é "controlada e dominada por Jesus
Cristo, pela lealdade a Cristo e pela preocupação em fazer tudo por causa de
Cristo". O cristão genuíno não vive para si mesmo, mas reconhece que
"não pertence mais a si mesmo", tendo sido "comprado por um
preço". Esta motivação central—viver "por causa de
Cristo"—distingue as perseguições enfrentadas pelos cristãos daquelas
experimentadas por outras pessoas. Quando o crente sofre por sua fidelidade a
Cristo, isso revela onde está seu verdadeiro tesouro. Tornando-se para ele:
"um perfeito teste da nossa profissão de fé cristã". Nossa resposta à
oposição frequentemente revela mais sobre nossa espiritualidade do que nossas
declarações de fé. Seguindo essa mesma linha de pensamento, Charles Spurgeon, o
príncipe dos pregadores, afirma: "Uma fé que nunca foi testada,
provavelmente não é fé genuína. O crente autêntico sabe que o fogo da aflição
não visa destruir, mas purificar sua fé. Quando sofremos por causa do nome de
Cristo, não estamos sendo abandonados, mas honrados com a oportunidade de
demonstrar a realidade da nossa aliança com Ele. O cristão que nunca enfrentou
oposição deveria questionar se sua luz está realmente brilhando no mundo."
Outro
aspecto que caracteriza o verdadeiro crente é uma vida "controlada por
pensamentos celestiais e sobre o mundo vindouro". Esta orientação para a
eternidade transforma radicalmente como o cristão responde à perseguição. Em
vez de desespero, há regozijo; em vez de retaliação, há paciência; em vez de
amargura, há esperança. Jesus instrui seus seguidores a "se regozijarem e
exultarem" quando perseguidos, porque "é grande o vosso galardão nos
céus". Esta promessa de recompensa eterna não é um mero consolo para o
sofrimento presente, mas uma afirmação de que o que fazemos por Cristo possui
valor eterno, mesmo quando parece custoso no momento. Jonathan Edwards,
abordando sobre esta orientação celestial, declarou: "O cristão verdadeiro
vive com os olhos fixos na eternidade, o que transforma radicalmente sua
experiência presente. Não é que ele ignore as dores deste mundo, mas as
interpreta através das lentes da glória vindoura. As aflições presentes são
momentâneas e leves em comparação com o peso eterno de glória que nos aguarda.
Esta perspectiva não nos torna estoicos insensíveis, mas cristãos esperançosos
que podem encontrar alegria substancial mesmo nas circunstâncias mais adversas,
pois sabemos que nenhum sofrimento por Cristo será em vão no cálculo da eternidade."
O
que Jesus Cristo nos apresenta é, essencialmente, um paradoxo transformador: a
perseguição, longe de ser evidência do abandono divino, é na verdade
confirmação de que estamos no caminho certo. Assim como os profetas foram
perseguidos antes de nós, nossa experiência de oposição nos coloca em uma
linhagem histórica de fiéis. Este paradoxo desafia nossa tendência natural de
evitar desconforto. A cultura contemporânea frequentemente sugere que o sucesso
espiritual deve se manifestar em prosperidade, popularidade e ausência de
problemas. A mensagem do Evangelho, contudo, inverte esta lógica: é
precisamente nas tribulações que a autenticidade de nossa fé é revelada e
refinada.
Como
aplicamos estas verdades em nossas vidas? Primeiramente, reconhecendo que a
perseguição em suas várias formas, desde a ridicularização sutil até formas
mais severas de oposição, não é acidental, mas consequência natural de viver
pelos valores do Reino. Em segundo lugar, examinando nossas motivações: vivemos
genuinamente "por causa de Cristo" ou principalmente por nossos
próprios interesses? A resposta a esta pergunta frequentemente determina como
interpretamos e respondemos à oposição. Finalmente, cultivando uma perspectiva
eterna que nos permita ver além das circunstâncias presentes. Esta visão não
nos torna indiferentes ao sofrimento, mas nos capacita a encontrar alegria
mesmo em meio a ele, sabendo que nosso trabalho no Senhor não é em vão.
O
regozijo na tribulação não é, portanto, masoquismo espiritual, mas expressão de
uma fé que reconhece que o verdadeiro valor da vida não está no conforto
temporário, mas na fidelidade eterna ao Rei e seu Reino.
Rev.
Liberato Pereira dos Santos
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