Mateus 6:25–34
No turbulento ambiente da vida moderna,
onde alertas constantes disputam nossa atenção e listas intermináveis de
afazeres nos perseguem, uma antiga sabedoria ecoa com surpreendente atualidade.
O capítulo sobre ansiedade do Sermão do Monte fornece um diagnóstico exato para
uma das maiores aflições humanas: a excessiva preocupação com os bens
materiais. Conforme observado por R.C. Sproul, "A ansiedade desvenda onde
se encontra nossa genuína confiança." Quando nos dedicamos demasiadamente
a preocupações materiais, confessamos silenciosamente que não acreditamos
totalmente na soberania de Deus sobre nossas vidas.
Na sua mensagem, Jesus apresenta uma
visão intrigante de como o mundanismo pode se expressar de maneiras diferentes
em nossas vidas. O perigo não se limita apenas ao acúmulo de riquezas, mas
também à obsessão com questões materiais. Existem muitas pessoas que, embora
não sejam culpadas por acumular riquezas na terra, podem ser extremamente
culpadas de mundanismo, por estarem constantemente pensando nesses assuntos.
John Piper nos auxilia a entender essa verdade ao declarar: "A ansiedade e
a fé são como água e óleo: não podem ser misturadas. Você pode possuir uma ou
outra, mas não as duas simultaneamente. A ansiedade é o resultado de
imaginar um futuro sem Deus nele." Esta distinção revela a natureza sutil
da ansiedade. Podemos nos congratular por não sermos materialistas no sentido
tradicional – não possuímos mansões, carros luxuosos ou contas bancárias
generosas – mas ainda assim podemos dedicar uma parte desproporcional de nossa
energia mental às preocupações com o sustento diário.
Necessitamos atentar para a terrível sutileza
do inimigo espiritual, Satanás. Sua estratégia não é necessariamente nos
empurrar para o materialismo ostensivo, mas simplesmente desviar nossa atenção
de Deus para as preocupações mundanas. D.A. Carson explica que "a
ansiedade funciona como um ácido corrosivo na alma, dissolvendo lentamente
nossa confiança nas promessas de Deus. É uma forma de ateísmo prático que vive
como se Deus não existisse ou não se importasse." A metáfora
utilizada é particularmente esclarecedora: podemos vencer a tentação do
materialismo que bate à "porta da frente", apenas para sermos
derrotados pela ansiedade que se infiltra pela "porta dos fundos".
Ambas são manifestações do mesmo problema – o deslocamento de Deus do centro de
nossas preocupações.
O que torna o ensinamento de Cristo tão
relevante é sua aplicabilidade universal. Independentemente do status
financeiro – ricos ou pobres – todos estamos vulneráveis a esta forma de
distração espiritual. A ansiedade é democrática em sua opressão. John Stott, em
sua análise perspicaz do Sermão do Monte, ressalta: "A ansiedade não é
apenas um problema psicológico, mas fundamentalmente teológico. Quando Jesus
diz 'não andeis ansiosos', Ele não está oferecendo uma técnica de controle do
estresse, mas chamando seus seguidores a uma radical reorientação de confiança,
do visível para o invisível, do temporal para o eterno."
Sendo assim, como vencer a ansiedade? Há
esperança para nós? Jesus não expõe nossa fragilidade sem oferecer remédio. Ele
apresenta as aves do céu e os lírios do campo como exemplos da providência de
Deus (vv. 26–30). Se nosso Pai cuida assim da Sua criação, quanto mais de nós,
feitos à Sua imagem! A cura para a ansiedade é a fé ativa: buscar primeiro o
Reino de Deus e Sua justiça, confiando que todo o restante será acrescentado
(v. 33).
Esta transição do pensamento ansioso
para a confiança não ocorre instantaneamente, mas através de uma disciplina
espiritual diária. Como explica Timothy Keller, "A oração é o principal
meio pelo qual transferimos nossa dependência das circunstâncias para a
dependência de Deus. Ela não muda apenas nossa perspectiva, mas reorienta nossa
identidade." O apóstolo Paulo nos aconselha: "Não estejais ansiosos
por nada; ao contrário, em tudo, por meio de oração e súplica, com ações de
graças, apresentem vossos pedidos a Deus" (Filipenses 4:6-7).
Em um universo dominado pela
produtividade e acumulação, como resume R.C. Sproul, "O remédio para a
ansiedade não consiste apenas em tentar parar de se preocupar, mas em depositar
nossa fé em um Deus que já demonstrou sua fidelidade inúmeras vezes na história
e em nossas vidas pessoais." A ausência de ansiedade não é apenas uma
vantagem psicológica - é um aspecto crucial da autêntica vida espiritual, onde
nossas inquietações são posicionadas corretamente na ordem de nossas
prioridades.
Portanto, devemos praticar diariamente a
entrega das nossas ansiedades a Deus (1 Pedro 5:7), entendendo que nossa
identidade não reside no que temos ou alcançamos, mas em quem somos em Cristo -
filhos amados e protegidos pelo Pai Celeste.
Rev. Liberato Pereira dos Santos
Disponibilizamos o boletim informativo da IPBN, a fim de que você fique por dentro daquilo que Deus está fazendo em/através da nossa comunidade. Boa leitura. Click no link abaixo e faça o download:https://mega.nz/file/FRIGgQrL#VzB9cdY9c-X2GcopBpFFFcthuiV7IIhMZaqkLXSEtck
Postar um comentário