sábado, 4 de outubro de 2025

OS DESAFIOS DE SEGUIR A CRISTO 05.10.2025

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Mateus 5:38-42

O convite de Jesus à autonegação é um dos temas mais desafiadores e transformadores do Sermão do Monte.  Até que ponto a proposta de Cristo é inovadora em relação à forma como o indivíduo se relaciona consigo mesmo? Não se trata apenas de regras de conduta, mas de uma transformação profunda na natureza e nos desejos do coração humano.

Um ponto que devemos ter em mente é que podemos nos distrair com as minúcias do texto mencionado, questionando se devemos literalmente "dar a outra face" ou "entregar também a túnica", e, assim, esquecendo o princípio essencial que Jesus estava ensinando. Essa visão rasa faz com que muitos se percam em debates sobre detalhes, sem perceber a transformação interna que Cristo oferece.

Jesus não estava tanto preocupado com as obras específicas que deveríamos fazer, mas com a postura essencial do crente: uma visão adequada de si mesmo.  As ilustrações práticas são apenas para mostrar a expressão externa dessa disposição interna. Como D. M. Lloyd Jones coloca de maneira muito clara: "a preocupação primária do Senhor Jesus envolvia aquilo que somos, e não aquilo que fazemos."

Ao contrário da visão comum de que o Sermão do Monte seria meramente um "manifesto ético" sem conteúdo doutrinário, essa passagem está repleta de profundas verdades teológicas. Quando Jesus usou o exemplo de “dar a outra face” (Mateus 5:39), ele tinha a intenção de ilustrar o importante princípio da autonegação – a necessidade de romper com o próprio ego, com o desejo de justiça pessoal, de retaliação ou de defesa constante dos próprios direitos. A proposta de Cristo é que o comportamento exterior do cristão seja apenas uma consequência natural de uma mudança interna, de uma nova perspectiva sobre si mesmo. Isso exige que nos desfaçamos de uma vez por todas da ideia de "direitos pessoais" — essa constante preocupação em proteger nosso ego, nossa reputação e nossos interesses. O crente maduro deve se livrar de vez da defesa típica do homem caído.

A ideia principal que Cristo nos ensina é que precisamos morrer para nós mesmos. Isso quer dizer remover aquela hipersensibilidade do ego que nos faz estar sempre em guarda contra possíveis ofensas ou ataques. O que se observa é que muitos cristãos têm o "eu à flor da pele", em um equilíbrio tão precário que a menor perturbação os desestabiliza completamente.

O ideal cristão, na visão do Mestre, é chegar a um ponto em que não temos como ser atingidos pelas críticas, ofensas e injustiças.  Não é falta de emoção, nem frieza, é uma libertação interna que nos faz responder às circunstâncias com a sabedoria que Ele nos concede, ao invés de reagir com os impulsos de um ego ferido.

Podemos observar dois exemplos impactantes dessa postura. Em primeiro lugar, o apóstolo Paulo afirma em 1 Coríntios 4:3: "Todavia, a mim, mui pouco se me dá de ser julgado por vós ou por tribunal humano; nem eu tão pouco julgo a mim mesmo." Paulo havia confiado inteiramente a Deus o que dizia respeito ao seu julgamento e à sua reputação, e, por isso, desfrutava de uma liberdade interior extraordinária.

Não menos impressionante é o relato de George Müller, o grande missionário inglês, sobre sua experiência espiritual: "Houve um dia em que morri, morri totalmente, morri para George Müller e suas opiniões, preferências, gostos e vontade; morri para o mundo, sua aprovação e censura; morri para a aprovação ou condenação da parte de meus próprios irmãos e amigos."  Essa posição está em consonância com a ideia de Paulo expressa em Gálatas 2:20: “Fui crucificado com Cristo.” De modo que já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim. A existência que atualmente experimento neste corpo é sustentada pela fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim.”

Ninguém pode seguir esses ensinamentos sem antes ter se libertado do apego ao eu. Isso significa renunciar ao direito de tomar suas próprias decisões sobre sua vida, seus anseios e até mesmo sobre como se sente em relação aos outros. É uma entrega tão profunda que só pode ser mantida pelo poder do Espírito Santo.

A essência do que foi dito é que a liberdade cristã genuína não é a defesa dos nossos direitos, mas a renúncia deles. Ao deixarmos de lado nosso ego, nos deparamos com uma nova maneira de viver, na qual nossa única preocupação é "ser aprovado diante de Deus."

O que torna viável não apenas "dar a outra face", mas viver com a graça, o amor e a sabedoria que caracterizaram o próprio Cristo é essa mudança drástica na visão pessoal. É a distinção entre uma prática religiosa superficial e uma espiritualidade que realmente transforma.

Rev. Liberato Pereira dos Santos


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