Marcos 13:33
Em meio a um mundo obcecado por
segurança: câmeras por toda parte, alarmes sofisticados, senhas complicadas, é
paradoxal que muitos de nós vivamos em um estado de sonolência espiritual. Nos
preocupamos em proteger nossos bens materiais e nossa privacidade digital, mas
negligenciamos a vigilância sobre o que é mais importante: nossa alma, nossa
fé, nossa posição com Deus. No entanto, a Bíblia nos chama à vigilância
constante, não por medo ou paranoia, mas sim por um amor zeloso pela verdade e
santidade. É um convite a abrir os olhos para a realidade espiritual que nos
cerca, um chamado pastoral para estarmos atentos.
A vigilância cristã não é uma atitude de
desconfiança generalizada, mas uma postura de sobriedade e discernimento. É a
consciência de que vivemos em um campo de batalha espiritual, em que o inimigo,
sutil e astuto, busca nos desviar da fé. Não se trata de um legalismo pesado,
mas de uma liberdade responsável, nascida da graça que nos capacita a viver
para Cristo. É a compreensão de que, embora a salvação seja pela graça, nossa
caminhada exige participação ativa, um "combate" diário para manter a
fé.
A Bíblia nos oferece metáforas ricas
para a vigilância. Uma delas, poderosa e muitas vezes esquecida, vem de 2
Crônicas 26:10, que descreve o rei Uzias construindo torres de vigia no deserto
e cavando muitas cisternas. Esta imagem é um espelho para a vida cristã. As
torres de vigia representam a vigilância em si: a proteção contra os inimigos
espirituais, a observação constante do campo de batalha da alma, a sobriedade e
a cautela que nos mantêm alertas. Elas são o nosso olhar atento para o mundo e
para as ciladas do maligno. Por outro lado, as cisternas simbolizam a oração: a
comunhão íntima com Deus, a fonte de nutrição espiritual que nos sustenta.
Assim como as cisternas armazenavam água – a vida no deserto –, a oração
armazena a vida, a força e a direção de Deus em nós. Jesus mesmo conectou essas
duas disciplinas ao nos exortar: "Vigiai e orai" (Mateus 26:41). Elas
são atividades complementares e inseparáveis. Vigiar sem orar nos leva à
exaustão e à arrogância, como construir torres sem provisões para os vigias.
Orar sem vigiar, por sua vez, é imprudência, como cavar cisternas sem ter
torres para perceber os ataques do inimigo. A oração nos proporciona a força; a
vigilância nos dá a direção para usar essa força. Ambas as disciplinas se
preservam mutuamente, garantindo que nossa fé seja robusta e nossa caminhada,
segura.
Onde, então, precisamos construir nossas
torres e cavar nossas cisternas hoje? Em diversas áreas da nossa vida:
Primeiro, na boca e nas redes sociais.
Nossas palavras podem edificar ou matar. Em um ambiente digital em que a
impulsividade e a crítica são a norma, precisamos vigiar o que falamos e
escrevemos. A vigilância aqui significa discernir o que edifica e o que
destrói, o que glorifica a Deus e o que apenas inflama contendas.
Segundo, na mente e no consumo de
conteúdo. O que alimentamos nossa mente? Filmes, séries, músicas, notícias,
podcasts – tudo isso molda nossa visão de mundo. A vigilância nos convida a
filtrar, a questionar, a buscar o que é verdadeiro, nobre, justo, puro, amável
e de boa fama (Filipenses 4:8).
Terceiro, nos olhos e no que
contemplamos. O que nossos olhos veem? Em uma cultura visualmente saturada
sensualidade e pornografia, é fácil ser seduzido por imagens que desviam nosso
coração. Vigiar os olhos é proteger a porta da alma, escolhendo deliberadamente
o que permitimos entrar.
Quarto, na herança espiritual e na sã
doutrina. Vivemos em tempos de grande confusão teológica. A vigilância aqui é a
de uma sentinela que protege a verdade do Evangelho. É estudar a Palavra,
apegar-se aos fundamentos da fé reformada e discernir as falsas doutrinas que
se apresentam como luz. J.I. Packer, em "Knowing God", nos lembra que
"o conhecimento de Deus é um conhecimento que envolve a mente, a vontade e
as emoções". Conhecer a Deus exige atenção deliberada e vigilância para
não distorcer Sua verdade.
A vigilância, portanto, não é um fardo,
mas um privilégio. É a resposta de um coração grato à graça soberana de Deus.
John Piper, em "When I Don't Desire God", afirma que "a
vigilância é a oração em ação, e a oração é a vigilância em submissão".
Elas são inseparáveis. Não podemos vigiar sem orar por força e discernimento,
nem orar sem vigiar para aplicar a direção divina.
Que possamos, como o rei Uzias, ser
sábios em nosso tempo. Que construamos nossas torres de vigilância com
discernimento e cavamos nossas cisternas de oração com fervor. Que abramos
nossos olhos para a realidade espiritual e estejamos atentos, não por medo, mas
por um amor profundo a Cristo e à Sua verdade. Que nossa vida seja um
testemunho de uma fé vigilante e orante, para a glória de Deus.
Rev. Liberato Pereira dos Santos
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